
A gigante chinesa Shein, conhecida por ser um dos maiores símbolos do fast fashion digital, está oficialmente sob investigação na Europa por práticas de greenwashing. O movimento surge em meio à crescente pressão de consumidores e organizações ambientais, que questionam a veracidade das alegações “sustentáveis” feitas pela empresa, enquanto ela continua a vender roupas a preços extremamente baixos e em volumes industriais.
O que é Greenwashing?
Greenwashing é quando uma marca finge ser ecologicamente responsável ao usar termos como “eco-friendly”, “produzido de forma consciente” ou “comprometido com o planeta”, sem comprovar essas práticas na realidade. No caso da Shein, o alerta foi disparado após diversas campanhas que falam em “moda sustentável”, mas sem apresentar dados transparentes, certificações oficiais ou evidências de redução do impacto ambiental.
Em janeiro de 2024, uma coalizão de organizações europeias, liderada pela Changing Markets Foundation e pelo European Consumer Organisation (BEUC), solicitou investigações formais. O motivo? Propagandas ambientais que poderiam violar os direitos dos consumidores, induzindo-os ao erro.
O Impacto da Shein nos Mercados Locais
A Shein promete “democratizar a moda”, mas também é acusada de precarizar a indústria têxtil global. Ao vender roupas por menos de R$ 30 — frequentemente com frete grátis e entrega rápida — a empresa torna quase impossível para pequenas marcas e produtores locais competirem.
No Brasil, empreendedores de moda autoral, brechós e marcas independentes relatam quedas nas vendas nos períodos em que a Shein lança grandes campanhas promocionais. O mesmo ocorre em países como Índia, México e África do Sul, onde o comércio de rua e pequenas confecções enfrentam uma competição desleal.
E como é possível vender roupas tão baratas? Segundo uma investigação do The Guardian (2022), muitas fábricas que fornecem para a Shein operam em condições de trabalho análogas à escravidão, com jornadas de até 18 horas por dia, sem contrato formal ou segurança trabalhista.
O Tsunami de Poluição e Descarte
A Shein lança de 6.000 a 10.000 novos produtos por dia, representando uma produção massiva, rápida e descartável — feita para durar pouco no guarda-roupa e, na consciência do consumidor. O impacto ambiental é imenso: a indústria da moda já é responsável por cerca de 10% das emissões globais de CO₂ e 20% da poluição das águas industriais, segundo a ONU Meio Ambiente. Com o modelo da Shein, essa conta só aumenta, com mais plástico (poliéster), mais tingimento químico, mais embalagens e um ritmo que estimula o descarte constante.
O descarte de roupas é um problema crítico. Dados do Instituto Akatu indicam que, no Brasil, em média, 9 peças de roupa são jogadas fora por pessoa, por ano. Muitas dessas peças de fast fashion não têm reaproveitamento fácil devido à baixa qualidade, misturas de fibras e falta de valor de revenda. O resultado? Elas acabam em lixões, incineradores ou são enviadas para países do Sul Global, sobrecarregando essas nações com lixo têxtil.
Um exemplo dramático é o Gana, que recebe mais de 15 milhões de roupas de segunda mão por semana, vindas da Europa e América do Norte. Um terço disso se transforma em lixo imediato, segundo o Oceans Without Borders.
O que Podemos Fazer?
A investigação contra a Shein pode ser um passo para uma mudança mais ampla. Se a prática de greenwashing for confirmada, a empresa poderá ser multada e forçada a alterar sua comunicação. Mas, mais importante, o caso expõe um sistema de consumo acelerado que já não é viável para o planeta.
Como consumidores, podemos:
-
Questionar promessas “verdes” sem provas claras.
-
Apoiar marcas locais, transparentes e sustentáveis.
-
Comprar menos, escolher melhor e cuidar das roupas que já temos.
-
Priorizar peças de segunda mão, brechós, trocas e apoiar a moda circular.
Fontes:
-
ONU Meio Ambiente (unep.org)
-
The Guardian, Investigação sobre fábricas da Shein (2022)
-
BEUC – European Consumer Organisation (beuc.eu)
-
Changing Markets Foundation (changingmarkets.org)
-
Instituto Akatu
-
Reportagens da BBC, DW e The New York Times sobre descarte têxtil
Adicionar comentário
Comentários